XXVII Simpósio Nacional de História (ANPUH) - 2013
- Em julho de 2013, o NEHLIS organizou o Simpósio Temático "História, literatura e sociedade" durante o XXVII Simpósio Nacional de História, promovido pela ANPUH, na UFRN, em Natal - RN. Segue abaixo a proposta do ST realizado.
Este Simpósio Temático pretende constituir-se em fórum de apresentação e discussão de pesquisas realizadas por historiadores (e todos os interessados de áreas afins: sociologia, política, antropologia, economia, letras etc.) que investigam a literatura e a consideram “uma fonte como outra qualquer”. Isso coloca-nos diante de uma primeira e crucial questão: discutir seus problemas e limites como documento. Supõe refletir sobre sua produção, circulação e consumo, tendo no horizonte as seguintes questões: quem escreve? Em que condições sociais, políticas, econômicas e culturais o faz? Como o produto do seu trabalho é apropriado, lido e “consumido”? Dito de outro modo, pensar a literatura como fonte documental é pensar, simultaneamente, sobre o escritor como intelectual, sobre as condições de produção da materialidade da obra (o livro), sobre o público leitor e suas estratégias e apropriações de leitura. Assim, acreditamos que o melhor referencial teórico para se pensar a literatura como fonte documental é o que supõe uma perspectiva materialista e dialética, própria da história social: por um lado, o escritor, o livro e o leitor só adquirem significado quando postos no contexto material e temporal que os configuram; por outro, literatura é uma fonte que só adquire plena significação quando entendida como parte da totalidade histórica (como, aliás, todas as fontes), ou seja, um fenômeno ao mesmo tempo cultural, econômico, social e político. Mas a literatura está inserida numa tradição de obras e autores, que deve ser considerada como parte constitutiva do seu significado. É nesse movimento entre contexto e tradição que ela deve também ser apreendida como fonte peculiar. Privilegiar um desses aspectos em detrimento dos outros necessariamente implicará uma visão limitada e destorcida do seu significado.
Sendo a literatura produto do seu tempo, do seu contexto e da sua própria tradição, cabe ao investigador refletir sobre como o contexto histórico e social se transmuta em forma literária. Essa é uma pergunta crucial se queremos, como sugeriu Raymond Willians, escapar do estético como uma dimensão abstrata à parte e com uma função abstrata. Em entrevista recente o critico literário Antônio Cândido, definiu essa relação, de forma irônica e profunda: “A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio”.
Outra referência teórica importante neste campo de pesquisa – e para os organizadores desse simpósio – é a obra de Edward Palmer Thompson, para quem a análise literária exige buscar a compreensão das redes e tensões sociais mais amplas nas quais a literatura é forjada. Tal como nos estudos sobre o universo dos trabalhadores que este historiador inglês realizou, os literatos são também apreendidos a partir de sua experiência. Entender essa dimensão da obra literária, a experiência histórica vivida por escritores e literatos, é condição básica para os historiadores. Por esta razão, texto e contexto são dimensões indissociáveis de um mesmo processo, devendo ser analisados em conjunto, levando-se em conta suas conexões recíprocas.
Assim, esse simpósio temático pretende agregar estudiosos das relações delicadas e difíceis entre história, literatura e sociedade, nos séculos XIX e XX, de qualquer quadrante geográfico.
Bibliografia:
Auerbach, Eric. Mimeses: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2009.
Bakthin, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. São Paulo: Ed. Unesp/Ed. Hucitec, 1988.
Cândido, Antônio. Formação da literatura Brasileira: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006 [1957].
Cândido, Antônio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história da literatura. 8ª São Paulo: T. A. Queiroz editor, 2002.
Cândido, Antônio et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2005.
Guizburg, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Jameson, Fredrick. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
Jameson, Fredrick. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2006.
Thompson, E. P. William Morris: romantic to revolutionary. California: Stanford University Press, 1988.
Thompson, E. P. Witness against the beast: William Blake and the moral law. New York: The New Press, 1993.
Thompson, E. P. Os românticos: a Inglaterra na era revolucionária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
Williams, Raymond. Cultura e sociedade, 1780-1950. São Paulo: Editora nacional, 1969.
Williams, Raymond. O Campo e a cidade na história e na literatura. São Paulo. Cia das Letras, 1989.
Williams, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
Williams, Raymond. The long revolution. Toronto: Broadview Press, 2001.
Williams, Raymond. Marxism and literature. Oxford/New York: Oxford University Press, 1977.
Este Simpósio Temático pretende constituir-se em fórum de apresentação e discussão de pesquisas realizadas por historiadores (e todos os interessados de áreas afins: sociologia, política, antropologia, economia, letras etc.) que investigam a literatura e a consideram “uma fonte como outra qualquer”. Isso coloca-nos diante de uma primeira e crucial questão: discutir seus problemas e limites como documento. Supõe refletir sobre sua produção, circulação e consumo, tendo no horizonte as seguintes questões: quem escreve? Em que condições sociais, políticas, econômicas e culturais o faz? Como o produto do seu trabalho é apropriado, lido e “consumido”? Dito de outro modo, pensar a literatura como fonte documental é pensar, simultaneamente, sobre o escritor como intelectual, sobre as condições de produção da materialidade da obra (o livro), sobre o público leitor e suas estratégias e apropriações de leitura. Assim, acreditamos que o melhor referencial teórico para se pensar a literatura como fonte documental é o que supõe uma perspectiva materialista e dialética, própria da história social: por um lado, o escritor, o livro e o leitor só adquirem significado quando postos no contexto material e temporal que os configuram; por outro, literatura é uma fonte que só adquire plena significação quando entendida como parte da totalidade histórica (como, aliás, todas as fontes), ou seja, um fenômeno ao mesmo tempo cultural, econômico, social e político. Mas a literatura está inserida numa tradição de obras e autores, que deve ser considerada como parte constitutiva do seu significado. É nesse movimento entre contexto e tradição que ela deve também ser apreendida como fonte peculiar. Privilegiar um desses aspectos em detrimento dos outros necessariamente implicará uma visão limitada e destorcida do seu significado.
Sendo a literatura produto do seu tempo, do seu contexto e da sua própria tradição, cabe ao investigador refletir sobre como o contexto histórico e social se transmuta em forma literária. Essa é uma pergunta crucial se queremos, como sugeriu Raymond Willians, escapar do estético como uma dimensão abstrata à parte e com uma função abstrata. Em entrevista recente o critico literário Antônio Cândido, definiu essa relação, de forma irônica e profunda: “A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio”.
Outra referência teórica importante neste campo de pesquisa – e para os organizadores desse simpósio – é a obra de Edward Palmer Thompson, para quem a análise literária exige buscar a compreensão das redes e tensões sociais mais amplas nas quais a literatura é forjada. Tal como nos estudos sobre o universo dos trabalhadores que este historiador inglês realizou, os literatos são também apreendidos a partir de sua experiência. Entender essa dimensão da obra literária, a experiência histórica vivida por escritores e literatos, é condição básica para os historiadores. Por esta razão, texto e contexto são dimensões indissociáveis de um mesmo processo, devendo ser analisados em conjunto, levando-se em conta suas conexões recíprocas.
Assim, esse simpósio temático pretende agregar estudiosos das relações delicadas e difíceis entre história, literatura e sociedade, nos séculos XIX e XX, de qualquer quadrante geográfico.
Bibliografia:
Auerbach, Eric. Mimeses: a representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva, 2009.
Bakthin, Mikhail. Questões de literatura e estética: a teoria do romance. São Paulo: Ed. Unesp/Ed. Hucitec, 1988.
Cândido, Antônio. Formação da literatura Brasileira: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006 [1957].
Cândido, Antônio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história da literatura. 8ª São Paulo: T. A. Queiroz editor, 2002.
Cândido, Antônio et al. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2005.
Guizburg, Carlo. O fio e os rastros: verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Jameson, Fredrick. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo: Ed. Ática, 2000.
Jameson, Fredrick. A virada cultural: reflexões sobre o pós-moderno. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2006.
Thompson, E. P. William Morris: romantic to revolutionary. California: Stanford University Press, 1988.
Thompson, E. P. Witness against the beast: William Blake and the moral law. New York: The New Press, 1993.
Thompson, E. P. Os românticos: a Inglaterra na era revolucionária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
Williams, Raymond. Cultura e sociedade, 1780-1950. São Paulo: Editora nacional, 1969.
Williams, Raymond. O Campo e a cidade na história e na literatura. São Paulo. Cia das Letras, 1989.
Williams, Raymond. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
Williams, Raymond. The long revolution. Toronto: Broadview Press, 2001.
Williams, Raymond. Marxism and literature. Oxford/New York: Oxford University Press, 1977.